No que se refere ao uso de medicamentos, a indústria farmacêutica tem anunciado inúmeras fórmulas que prometem resolver nossos sofrimentos, oferecendo alegria, estímulo e consolo. Nessa perspectiva, os medicamentos se apresentam como uma concreta possibilidade de alcançar a saúde e bem-estar. Essa compreensão de “saúde em pílulas” tem atravessado a psicologia e a psiquiatria, ocasionando um apelo dos pacientes por medicamentos que solucionem ou apaziguem suas questões existenciais.
Medicamentos tarja preta são prescritos para aliviar alguns sintomas relacionados a problemas de saúde mental. Esses medicamentos podem proporcionar alívio aos sintomas, ajudando as pessoas a retomarem seu funcionamento cotidiano e melhorando sua qualidade de vida. Entretanto, esses medicamentos podem causar dependência física e psicológica se forem administrados de maneira inadequada ou sem qualquer tipo de acompanhamento.
A medicalização, expressa uma resposta contemporânea à procura de uma vida ilusória, de prazer, liberdade incondicional e na promoção dos desejos. Desde o lançamento do antidepressivo Prozac (Fluoxetina), no século XX, a “pílula da felicidade” prometia uma ação mais eficaz que os antidepressivos anteriormente produzidos, atrelado a efeitos colaterais e ao potencial de toxicidade significativamente menores, a medicação se tornou a modalidade hegemônica de intervenção. Atrelado a isso, assistimos a um progressivo abandono de outros saberes como o psicossocial, psicológico, espiritual e filosófico.
O século XXI é conhecido como século da era digital, e apresenta uma sociedade com altos índices de problemas de ansiedade e depressão, pessoas cada vez mais frágeis emocionalmente e com falsas sensações de felicidade e perfeição nos seres humanos diante do que é visto nas redes sociais. Na atualidade, as promessas das medicações mostram-se sedutoras, pois ao invés do tempo de médio a longo prazo dos benefícios do processo terapêutico, as substâncias indicam uma amenização dos sintomas em semanas, o que denota um efeito mais evidente da “saúde em pílulas” que tem sido a medicalização de sentimentos anteriormente considerados comuns, pertencentes à própria condição humana.
A utilização de medicamentos tarja preta deve estar integrada a uma abordagem multidisciplinar no tratamento de problemas de saúde mental. Isso pode incluir o acompanhamento psicológico, mudanças no estilo de vida, apoio social e outras intervenções. A Psicoterapia, atua no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento saudáveis, tratamento de causas subjacentes e na redução da dependência de medicamentos. É fundamental lembrar que cada caso é único, e a avaliação e orientação de profissionais de saúde, como médicos e psicólogos, são necessárias para uma utilização adequada de medicamentos tarja preta, evitando riscos e promovendo a saúde mental e o bem-estar geral.
REFERÊNCIAS
Silva, Ellen Fernanda Gomes da, and Carmem Barreto. “A tarja preta da medicalização”: reflexões para a clínica psicológica.” Revista do NUFEN 11.1 (2019): 86-101.
de Moraes, Andressa Patrícia Corrêa, Nadia Ap Gonzaga de Andrade, and Ana Paula da Costa Fernandes. “ANSIOLÍTICOS, UM SOFRIMENTO PSÍQUICO DA CONTEMPORANEIDADE: PREVALÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DE ANSIOLÍTICOS POR PACIENTES ATENDIDOS NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) ARAGARÇAS-GO.” Revista Eletrônica Interdisciplinar 14.1 (2022).
GUEDES, Marcelo Ribeiro de Almeida; MARINS, Matheus Ribeiro. GERAÇÃO TARJA PRETA. Simpósio, [S.l.], n. 8, fev. 2020. ISSN 2317-5974. Disponível em: <http://revista.ugb.edu.br/ojs302/index.php/simposio/article/view/1938>. Acesso em: 31 ago. 2023.
