O vício é uma patologia que afeta de forma direta o sistema nervoso do indivíduo e com grandes implicações sociais, e ocorre a partir de bases fisiológicas que alteram a consciência e o comportamento de uma pessoa.
Vícios: Além das Substâncias
Quando pensamos em vícios automaticamente associamos com uso de substâncias, mas na verdade, os vícios pode se referir tanto ao uso de substâncias químicas como drogas e álcool, como também ser referente a vícios comportamentais, sendo alguns exemplos desses: vício em comer compulsivo, jogos de azar, videogame, compras compulsivas e atualmente, vêm-se observando um aumento significativo na dependência tecnológica, que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) vem sendo considerada um transtorno que atinge em torno de 468 milhões de pessoas.
Os Sinais da Dependência
O que pode transformar uma pessoa dependente em algo está na dificuldade de reduzir, interromper ou modificar o comportamento ou, ainda, o prejuízo dele em sua vida pessoal, social, acadêmica ou profissional. Se pensarmos na dependência química, por exemplo, a substância de abuso se torna parte das necessidades diárias do indivíduo, assim como comer e dormir, o que se deve às alterações cerebrais relacionadas ao equilíbrio fisiológico e psíquico.
Para compreender como isso acontece no corpo humano, é crucial ilustrar quais mecanismos cerebrais estão envolvidos na formação do vício.
O Papel do Sistema de Recompensa
Inicialmente, tanto as drogas quanto certos comportamentos ativam no cérebro um mecanismo conhecido como Sistema de Recompensa. Este sistema desempenha um papel direto no desenvolvimento de sensações de prazer, bem-estar e euforia. Além disso, ele é responsável por influenciar a realização de ações que possam promover essas sensações. Dentro desse circuito, a molécula de dopamina, que tem um papel muito importante na área da recompensa e está intrinsecamente relacionada ao prazer, atua como o principal neurotransmissor.
A Dopamina e o Prazer
Quando um indivíduo realiza uma atividade que aciona esse sistema, certos neurônios que produzem dopamina começam a liberá-la no córtex pré-frontal. Portanto, esse é o local do cérebro responsável pelo controle do planejamento e do raciocínio. Dessa maneira, esse processo cria uma relação positiva com a ação ou substância, resultando na formação de uma memória positiva. Consequentemente, isso leva o indivíduo a desejar repetir mais vezes a ação específica.
Sistema de Recompensa na Vida Cotidiana
Dessa forma, num corpo saudável, será através desse sistema que o corpo humano recebe o estímulo de realizar atividades essenciais à sobrevivência, como por exemplo, o sistema de recompensa é ativado após comer ou dormir, proporcionando felicidade e prazer, aumentando as chances de que ocorra a repetição dessas atividades.
Já no caso de vícios em drogas e comportamentos, eles atuam sobre esse sistema pelo aumento da dopamina. Como resultado, ocorre uma associação cerebral do uso da substância ou realização do comportamento com uma atividade positiva que deve ser repetida para proporcionar prazer, recompensa e felicidade.
Abordagens de Tratamento
Existem formas de se tratar os diversos vícios, sendo necessário primeiramente a vontade do indivíduo de ressignificar o vício. O envolvimento multidisciplinar de uma boa equipe de saúde, bem como suporte social e familiar, aconselhamento, acompanhamento psicológico – sendo a terapia cognitivo-comportamental a abordagem com maiores evidências de benefícios; e em alguns casos pode ser necessário até mesmo o uso de medicamentos.
Referências
Volkow ND. Stigma and the toll of addiction. N Engl J Med. 2020;382(14):1289–1290.
NESTLER, EJ; SELF, DW. Aspectos neuropsiquiátricos da dependência de álcool e de outras substâncias químicas. Neuropsiquiatria e Neurociências na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 4 ed., cap. 27, p. 741-759, 2006.
https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1444220/os-vicios-e-as-suas-carateristicas.htm
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-58212006000300016